ORIENTE MÉDIO

As relações ocultas Israel - Irã : o confronto

19.06.2025 - Rede Global de Comunicação Conhecimento é Poder - Por Edson A Souza

Os inimigos do Irã no século XX

Todas as manifestações no Irã contra os inimigos externos terminam com a inevitável « Morte ao Reino Unido! Morte aos Estados Unidos! Morte a Israel!». É um grito que parte do fundo dos sofrimentos dos Persas desde a Primeira Guerra Mundial.

• Com efeito, enquanto no Ocidente não se tem consciência disso, o Irã foi vítima, em 1917-1919, do mais importante genocídio da Primeira Guerra Mundial. Entre 6 a 8 milhões de pessoas morreram de fome, numa população de 18 a 20 milhões de habitantes, ou seja, entre um quarto e um terço dos Iranianos. O Irã, que era portanto neutro, foi esmagado pelos Exércitos britânicos, sobre um fundo de rivalidade com os Bolcheviques e os Otomanos. Este horror deixou uma recordação traumática sempre muito presente no Irã. Não há nenhuma dúvida para um Iraniano que o Reino Unido é o primeiro inimigo do seu país.

• Os Britânicos, que haviam colonizado o Irã através de um dos seus oficiais, Reza Chah (1925-1941), derrubaram-no para colocar no Poder o seu filho, Mohammad Reza Pahlevi (1941-1979). Por trás destas cortinas, eles pilharam o petróleo do país. No entanto, em 1951, o Xá escolheu Mohammad Mossadegh como Primeiro-Ministro. Este nacionalizou o petróleo, em prejuízo de Londres. Seguiu-se uma disputa no decurso da qual os Britânicos lançaram um assalto de má fé e uma revolução colorida que organizaram com a ajuda dos Norte-Americanos. Foi a « Operação Ajax. No fim, o novo regime acabou controlado, já não por Londres, mas sim por Washington. Por exemplo, a embaixada dos Estados Unidos, que instalou os telefones, colocou derivações nas linhas de todos os ministros para os escutar sem seu conhecimento. Este sistema acabou descoberto durante a Revolução de 1978. Para os Iranianos não há portanto nenhuma dúvida que os Estados Unidos são o seu segundo inimigo.

• Logo que Mossadegh foi derrubado, os Britânicos impuseram o General Fazlollah Zahedi em seu lugar. Zahedi era um nazi que eles tinham encarcerado no Cairo, mas Londres contava com ele para impor «a ordem». Por isso, este constituiu uma polícia secreta no modelo da Gestapo. Ele recuperou antigos nazis para a formar e várias centenas de «sionistas revisionistas» foram enviados por Yitzhak Shamir (que trabalhava então na Mossad) para os enquadrar. Pode-se sempre recordar os horrores da Savak, a mais terrível polícia secreta à época no mundo, no museu que lhe é dedicado em Teerã. Não há, pois, qualquer dúvida para os Iranianos que Israel é o seu terceiro inimigo.

O único inimigo de Israel no século XX

Contrariamente ao que pensa a população israelita após 25 anos de propaganda « sionista revisionista », o Irã – nem o do Xá, nem o da República islâmica – jamais teve como objetivo aniquilar a população judaica da Palestina ocupada. Tal como o Presidente Mahmoud Ahmadinejad havia explicitado, o objetivo era destruir o Estado de Israel tal como a Rússia havia destruído a URSS. Não, o único inimigo do Estado de Israel é aquele que, desde há 80 anos, sabota qualquer tentativa de paz entre os judeus e os árabes : o Reino Unido. Quando o Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores) elaborou, em 1915, o seu plano intitulado The Futur of Palestine (O Futuro da Palestina), ele especificou que um Estado judaico devia ser criado na Palestina do Mandato, mas que este não deveria, em caso algum, ser capaz de prover sozinho à sua segurança. Só dois anos mais tarde é que o governo de David Lloyd George redigiu a Declaração Balfour, anunciando a criação do Lar Nacional Judaico, e que a Administração Woodrow Wilson assumiu o compromisso de criar um Estado independente para os judeus do Império Otomano.

O autor deste texto, Lord Herbert Samuel, tornou-se Alto Comissário Britânico na Palestina e favoreceu os «sionistas revisionistas» de Jabotinsky, por um lado, e por outro, designou o anti-semita Mohammed Amin al-Husseini como Grande Mufti de Jerusalém. Posteriormente, ele veio a ser nomeado Secretário de Estado do Interior no governo de Archibald Sinclair. Essa política prossegue sem interrupção até aos nossos dias : o Reino Unido continua a apoiar o « sionista revisionista » Benjamin Netanyahu com uma mão e, com a outra, a Confraria dos Irmãos Muçulmanos, da qual o Hamas é a secção palestiniana.

O prolongamento do conflito entre os « sionistas revisionistas » e o Irã

Logo após a Segunda Guerra Mundial, o Presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, inquietou-se que o seu homólogo israelita, Chaim Weizmann, pusesse em prática o « Grande Israel », ou seja, não a reconstituição do Reino de Jerusalém (que estava já largamente incluído no Estado de Israel), mas do antigo império assírio ( quer dizer, do Nilo ao Eufrates ). Ele pediu ao seu Secretário de Estado, John Foster Dulles, para organizar uma aliança entre a Síria e o Irã a fim de equilibrar a influência israelita.

Foi assim a pedido de Washington que o Presidente sírio, Adib Chichakli (PSNS) (1953-1954) assinou, em 24 Maio de 1953, um acordo de cooperação militar com o soberano iraniano, Mohammad Reza Pahlevi. É, portanto, estúpido denunciar hoje em dia esta mesma aliança (agora denominada « o Eixo da Resistência ») só porque estes dois regimes se emanciparam.

É, no entanto, o que fazemos. Em 1979, o Presidente Jimmy Carter derrubou o Xá do Irã e a sua pretensão de dominar o Médio-Oriente, dotando-se para tal de uma bomba atômica fornecida pelo Presidente francês, Valéry Giscard d’Estaing, e seu Primeiro-Ministro, Jacques Chirac. Para o substituir, e por indicação do seu Conselheiro de Segurança, Zbigniew Brzeziński, ele deslocou o Imã Rouhollah Khomeiny de França para Teerã. Israel, primeiro apoiou o Irã face ao Iraque, fornecendo-lhe o armamento necessário. Telavive organizou mesmo o componente iraniano do escândalo do Irã-Contras. Depois, progressivamente mudou de estratégia conservando no entanto certas relíquias do período do Xá. Assim, o consórcio EAPC-B, detido a meias por cada um dos dois Estados, continua, ainda hoje, a explorar o “pipeline” Eilat-Ashkelon, indispensável à economia israelita. Em 2018, o Knesset adoptava até uma lei punindo com 15 anos de reclusão qualquer referência sobre os proprietários desta companhia.

A partir da invasão anglo-saxônica do Iraque, em 2003, supostamente devido ao seu papel nos atentados do 11 de Setembro de 2001, Londres e Washington começaram a espalhar rumores sobre uma pretensa arma nuclear iraniana, tal como tinham feito sobre as supostas armas de destruição maciça do Iraque. À época, Londres e Washington esperavam forçar o Irã a ajudá-los contra o Iraque.

Estas intoxicações desembocaram na votação das Resoluções 1737 (23 de Dezembro de 2006) e 1747 (24 de Março de 2007) do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O chefe da Oposição israelita, Benjamin Netanyahu, apropriou-se desta propaganda. Durante vinte e cinco anos, ele não irá parar de denunciar o fabrico «iminente» de uma bomba atômica iraniana, mesmo quando Teerã apresenta nas Nações Unidas uma proposta de resolução para criar «uma zona isenta de armas nucleares no Médio-Oriente».

Seja como for, em 2013, William Burns ( o diretor da CIA de Joe Biden ) negociou com o Irã, em Omã, em nome do Presidente Barack Obama, o Plano de Ação Global Conjunto (JCPoA). Isso foi encenado durante as reuniões dos 5+1 (ou seja, das cinco potências nucleares do Conselho de Segurança + Alemanha) em Genebra. Mas só veio a ser assinado em Viena, dois anos mais tarde, com os Estados Unidos e o Irã reservando uma longa pausa para concluir um anexo secreto.

Numa longuíssima entrevista, justamente antes do fim do seu segundo mandato, Barack Obama explicou que recusava, a título preventivo, impedir que o Irã se lançasse na corrida à energia nuclear, mas que estava pronto a intervir se Teerã realizasse um programa nuclear militar. A sua Conselheira de Segurança, Susan Rice, declarava : «O acordo iraniano nunca teve por objetivo principal tentar abrir uma nova era de relações entre os EUA-Irã. Ele era muito mais pragmático e minimalista. O fim era muito simplesmente tornar um país perigoso consideravelmente menos perigoso. Ninguém esperava que o Irã se tornasse um ator benevolente».

A posição dos Estados Unidos não mudou. É verdade que, durante o seu primeiro mandato, o Presidente Donald Trump se retirou unilateralmente do JCPoA e do anexo secreto que Barack Obama havia negociado, mas apenas por declarações orais é que ele recusou ao Irã enriquecer urânio, não, na prática, durante as negociações.

Durante esse período, o Irã lançou-se na mobilização das comunidades xiitas do Médio-Oriente para garantir a sua segurança. Depois, com o General Qassem Soleimani, Teerã regressou à doutrina khomeinista de ajuda e não mais da instrumentalização. Assim, o Irã já não tinha «proxys» antes de Israel destruir o Hamas, o Hezbolla e outros mais. Todos se tinham tornado independentes.

Os acontecimentos desencadeadores do confronto, acontecem que, em 7 de Junho, Esmaïl Khatib, Ministro iraniano da Inteligência, tornou pública uma operação dos seus Serviços Secretos. Estes tinham conseguido apoderar-se de documentos confidenciais sobre o programa nuclear israelita, exatamente como a Mossad havia conseguido, em Abril de 2018, apoderar-se de documentos iranianos sobre suas pesquisas nucleares.

Em de 12 Junho, o Conselho de governadores da AIEA —sob a direção de Rafael Grossi— adoptou uma resolução em que ele afirmava que « o Diretor Geral, como indicado no documento GOV/2025/25, não [pode] dar a garantia que o programa nuclear do Irã é exclusivamente pacífico ». Ele, estimava, pois, que « as muitas falhas do Irão às suas obrigações desde 2019, no que diz respeito a cooperar plenamente, e em devido tempo, com a Agência relativa às matérias e actividades nucleares não-declaradas em múltiplos locais não-declarados no Irã, tal como especificado no documento GOV / 2025 / 25, constituem uma violação das obrigações decorrendo do seu acordo de garantias com a Agência no sentido do artigo XII. C do Estatuto da Agência ; ». Em função do qual, ele apresentava queixa ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Mas, enquanto os documentos iranianos apreendidos pela Mossad não revelavam nenhum programa nuclear militar, apesar das contínuas denúncias de Benjamin Netanyahu, os primeiros documentos israelitas apreendidos pelo Ministério iraniano de Inteligência colocaram em causa a neutralidade do Argentino Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Estes revelam que ele transmitiu a Israel as observações da organização, muito embora Israel não seja membro da mesma organização. Entre os governadores da AIEA, a Rússia, a China e o Burkina Faso opuseram-se à Resolução.

Acontece que Rafael Grossi já fora posto em causa pelo seu estranho silêncio durante a “operação especial russa” na Ucrânia : ele tinha revelado, durante uma intervenção no Fórum de Davos, em 2022, que o regime ucraniano havia armazenado 30. 000 quilos de plutónio e 40. 000 outros de urânio enriquecido na Central de Zaporijia. Depois, nada mais, apesar dos protestos russos.

No dia seguinte à publicação dos documentos apreendidos pelo Irã, Telavive atacava o Irã. Ora, foi o mesmo comportamento, exatamente, como durante a guerra contra o Líbano, em 2006. Em que Israel fingiu agir com o pretexto de vários dos seus soldados terem sido capturados pelo Hezbolla. Na realidade, interveio para parar as investigações da polícia, e da justiça libanesa, sobre uma vasta rede de espionagem e de terrorismo israelita no Líbano; investigações que poderiam ter levado a uma outra interpretação sobre o assassinato do antigo Primeiro-Ministro Rafic Hariri. (“A Terrível Impostura 2” -ndT) [19].

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Donald Trump está separando os Estados Unidos de Israel

Depois de ter pacientemente proposto a Benjamin Netanyahu negociar com a resistência palestiniana e ter deparado apenas com uma obstinação em massacrar os palestinianos, em anexar Gaza, o Sul do Líbano, a Síria e em desencadear uma guerra contra o Irã, a Administração Trump mudou de rumo. Agora, é evidente para ela, como para todos aqueles que se interessam por esta região desde há 80 anos, que os sionistas revisionistas são os inimigos da paz e portanto também inimigos de Israel.

Quando era o Presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, que preparava a emenda das leis fundamentais israelitas, quer dizer, um Golpe de Estado, juntaram-se. Desde há três anos, os dois homens fazem avançar a agenda dos « sionistas revisionistas » : eles mentem ao mundo inteiro e mergulham o Ocidente numa guerra contra a Rússia e no massacre dos civis palestinianos.

14.05.2025 - Rede Global de Comunicação Conhecimento é Poder - Por Edson A Souza

O principal obstáculo que Donald Trump encontra nas suas negociações de paz, tanto com o Irã como face à Ucrânia, é o papel dos «sionistas revisionistas» hoje no Poder em Israel. As pressões que eles exercem sobre Washington para fazer fracassar as negociações com Teerã. As suas pressões em favor dos «nacionalistas integralistas» ucranianos, essas só se tornaram públicas em 3 de Maio, com as declarações enfáticas de Natan Sharansky em favor de Volodymyr Zelensky. Estes dois grupos haviam feito aliança, em 1921, contra os bolcheviques e contra muitos judeus ucranianos, o que provocou uma investigação da Organização Sionista Mundial e a demissão de Vladimir Jabotinsky do seu conselho de administração. Este escândalo é hoje subestimado pelos historiadores judaicos que têm repugnância em estudar o massacre de judeus por outros judeus. Existem, no entanto, excepções como os trabalhos de Grzegorz Rossoliński-Liebe. O próprio Sharansky impede os historiadores de estudar o assunto ao presidir ao Centro de Comemoração do Holocausto de Babi Yar (o assassínio a tiro de 33. 771 judeus, em 29 e 30 de Setembro de 1941) pelos Einsatzgrups e os «nacionalistas integralistas», duas semanas após a transferência de Stepan Bandera de Kiev para Berlim. E não esqueçamos os contatos dos « sionistas revisionistas » com Adolf Eichmann até à tomada de Berlim pelo Exército vermelho, em 2 de Maio de 1945.

Enquanto o Primeiro-Ministro israelita à época, Naftali Bennett, tinha no início da “operação especial” russa na Ucrânia apelado a Volodymyr Zelensky para reconhecer as justas exigências de Moscou em «desnazificar a Ucrânia, e que o Ministro israelita da Defesa, Benny Gantz, havia declarado que, enquanto ele fosse vivo, jamais Israel daria armas aos « massacradores de judeus ucranianos», o atual Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu, autorizou a indústria de armamento israelita a exportar a sua produção para a Ucrânia.

Em 2022, o Ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, havia declarado : « E se Zelensky fosse judeu ? Esse fato não nega os elementos nazis na Ucrânia. Creio que Hitler também tinha sangue judeu. Isso não quer dizer absolutamente nada. O povo judaico na sua sabedoria disse que os anti-semitas mais ardentes são geralmente judeus. Em todas as famílias há uma ovelha negra, como diz o ditado ». Yaïr Lapid respondera-lhe então : « Essas observações são, ao mesmo tempo, não só imperdoáveis e escandalosas, mas também um terrível erro histórico. Os Judeus não se mataram entre si durante a Shoah. O mais baixo nível de racismo contra os Judeus é acusar os próprios Judeus de anti-semitismo ». Mas, não nos enganemos : a História não é feita de comunidades boas ou más, mas de homens que, entre si, se podem comportar de diferentes maneiras. Há que abrir os olhos !

O promotor imobiliário Steve Witkoff, tornado enviado especial do seu amigo Donald Trump para o Médio-Oriente Alargado (Grande Israel), é de cultura judaica. Ele compreendeu perfeitamente o que o Presidente Vladimir Putin lhe disse a propósito dos « sionistas revisionistas » em Israel e dos « nacionalistas integralistas » na Ucrânia, ao ponto dos Ocidentais o terem acusado de propagar a narrativa russa.

Assista os seguintes vídeos produzidos pela Rede Global de Comunicação Conhecimento é Poder:

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Regressemos ao nosso assunto. Donald Trump é Presidente dos Estados Unidos; um país cujo mito fundador afirma que foi fundado pelos «pais peregrinos», os quais tendo fugido do « faraó » inglês, atravessando o Atlântico como os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho, instalaram uma colônia em Plymouth, tal como os Hebreus fundaram a « Terra Prometida». Todos os Norte-Americanos celebram esse mito no dia de Ação de Graças (Thanksgiving). Todos os Presidentes dos Estados Unidos, sem exceção, de George Washington ao próprio Donald Trump, se referiram a ele nos seus discursos oficiais. A aliança entre Washington e Tel-aviv não é pois questionável. Acontece que, os Estados Unidos, o país onde proliferam as seitas, que celebra a liberdade de religião, mas, não a liberdade de consciência e denúncia, sem o compreender, o laicismo francês, tem um movimento dito «cristão sionista». Trata-se de cristãos que igualam o Israel da bíblia ao moderno Estado de Israel. Ora, este movimento votou maciçamente por Donald Trump e este ficou em dívida. Uma vez presidente, ele designou a pastor Paula Blanche (além disso ligada aos «imperialistas japoneses») como diretora da Iniciativa Fé e Oportunidade da Casa Branca. Seja como for, se ninguém nos Estados Unidos pode por em questão a aliança com Israel, isso não implica, de forma alguma, apoiar os «sionistas revisionistas» hoje em dia no Poder em Tel-aviv.

Abdul-Malik al-Huthi e os seus homens resistiram. O Ansar Allah continuou a atacar os navios israelitas para apoiar os civis gazenses. Por outro lado, ele assinou um acordo de livre circulação com os Estados Unidos.

Lentamente, o Presidente Donald Trump dissocia Israel da pessoa de Benjamin Netanyahu. Ao recebê-lo na Casa Branca quando ele era alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, proclamou pelo seu Secretário de Estado, Marco Rúbio, que a sua Administração era a mais pró-israelita da história. Tendo feito isso, ele opôs-se firmemente ao plano de Netanyahu de interrupção do acordo de paz assinado com o Hamas e, pelo contrário, da ocupação militar da Faixa de Gaza. Ele chegou ao ponto de afirmar que as Forças Armadas norte-americanas (não israelitas) iam tomar o «controle» desse território. Constatando que as suas provocações não têm efeito sobre Tel-aviv, o Presidente Donald Trump acaba de dar um passo decisivo : sem avisar o seu aliado israelita, negociou uma paz separada com o Ansar Allah no exato momento em que este movimento iemenita bombardeava o aeroporto Ben Gurion de Tel-aviv.

Restabelecendo a divisão entre o Iêmen do Norte e o Iêmen do Sul, o Ansar Allah, liderado pela família Huthi (daí o pejorativo apelido ocidental de «bando dos Huthis» ou «Huthis»), conseguiu por fim à guerra com a ajuda do Irã, depois em ajudar os civis palestinianos, para  bombardeando no Mar Vermelho de navios israelitas ou ligados a Israel. O Conselho de Segurança das Nações Unidas nunca condenou esses ataques, mas unicamente as perturbações da liberdade de navegação de navios não ligados ao conflito gazense. Desprezando as Nações Unidas, os Estados Unidos e o Reino Unido, criaram primeiro uma coligação militar para responder ao Ansar Allah e socorrer os Israelitas durante o massacre dos civis Gazenses. Eles visaram alvos militares sem resultados significativos (estando todos os alvos militares iemenitas enfiados debaixo do solo), depois visaram figuras políticas, matando colateralmente muitos civis.

Os Anglo-Saxões continuaram a acusar o Irã de apoiar militarmente o Ansar Allah, fazendo de Teerã um ator da guerra atual. Ora, o General Qassem Soleimani (assassinado pelas ordens de Donald Trump, em 3 de Janeiro de 2020) tinha ajudado o Ansar Allah a se reorganizar para que este pudesse fabricar as suas armas e continuar a guerra sem a ajuda do Irã. Este pode ter repetido, uma e outra vez, já não estar implicado no Iêmen que os Anglo-Saxões continuam a considerar o Ansar Allah como um «proxy» do Irã, o que é hoje absolutamente falso.

Convêm agora compreender a maneira como Donald Trump apreende os conflitos no «Médio-Oriente Alargado». Ele imagina pressionar pela força os grupos que conduzem guerras, tenham ou não razão nestes conflitos, a cessar as suas operações militares. Mas não deseja entrar em guerra contra uns ou outros. A seguir, espera negociar compromissos para estabelecer uma paz justa e duradoura. Portanto, ele mandou assassinar o General Qassem Soleimani em 2020, logo após ter mandando matar o califa do Daesh (E.I.), Abu Bakr al-Baghdadi. Ele autorizou operações contra o Ansar Allah, mas acaba de lhe por um fim quando percebeu que não era um grupo terrorista, mas um poder político legítimo administrando um Estado ainda que não reconhecido. Ele autorizou fornecimentos de armas a Israel durante a limpeza étnica de Gaza, mas começou a apoiar o movimento pacifista no seio das Forças de Defesa Israelitas (FDI), de modo que hoje em dia os «sionistas revisionistas» já não tem os meios para massacrar os Gazenses e recuam retomando o cerco visando matá-los pela fome.

É preciso, pois, avaliar o acordo separado concluído com o Ansar Allah como uma ruptura do alinhamento de Washington com Tel-aviv e um passo em direção ao acordo com Teerã. Quando, pelo meio de Março, Tel-aviv percebeu a possível retirada dos Estados Unidos — não havia encarado a paz separada – lançou-se de novo numa escalada e atacou o Iêmen 131 vezes.

O Americano-Israelita Ron Dermer, muito próximo de Natan Sharansky, com quem escreveu um livro, tornou-se embaixador de Israel em Washington e atualmente Ministro dos Assuntos Estratégicos. Como tal, ele é o principal responsável pelos planos de anexação de Gaza e do massacre de populações civis. Reagindo à paz separada americano-iemenita, este sionista revisionista dirigiu-se à Casa Branca, em 8 de Maio, onde foi recebido «a título privado» por Donald Trump.

O colunista do New York Times, Thomas Friedman, escreveu no dia seguinte, 9 de Maio : « Não duvido que, de uma maneira geral, o povo israelita continua a considerar-se como um aliado inabalável do povo norte-americano — e vice-versa. Mas este governo israelita ultra-nacionalista e messiânico não é o aliado dos Estados Unidos [...] Podemos continuar a ignorar o número de Palestinianos mortos na faixa de Gaza – mais de 52. 000, dos quais cerca de 18. 000 crianças – a pôr em questão a credibilidade dos números, a utilizar todos os mecanismos de repressão, de negação, de apatia, de distanciamento, de normalização e de justificação. Nada disso mudará o fato amargo : eles mataram-nos. Foram as nossas mãos que o fizeram. Nós não podemos fechar os nossos olhos. Temos que acordar e gritar alto e forte : parai a guerra ». 

Em 8 de Maio, a Reuters revelou que, agora, Washington, ao negociar com Mohamed bin Salman (MBS), Príncipe herdeiro da Arábia Saudita, já não punha o reconhecimento de Israel como condição prévia para qualquer acordo. Se este fato se confirmar, isso significaria que reconhecer que o Estado judaico se tornou um Estado racista judeu não seria mais considerado um crime no Ocidente.

No início de Março, soube-se que o Presidente Donald Trump autorizou Adam Boehler, o seu negociador para a libertação dos reféns norte-americanos, a estabelecer contato direto com o Hamas, portanto oficialmente considerado como uma « organização terrorista ». Em 12 de Maio, esta mudança de atitude foi recompensada pelo anúncio da libertação do Americano-Israelita, Edan Alexander, sequestrado quando usava armas, em 7 de Outubro de 2023. Além disso, no início de Maio, o rumor de um possível reconhecimento pelos Estados Unidos do Estado da Palestina, durante a viagem de Donald a Riade, espalhou-se como fogo em palha seca.

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Israel contra o Irã, novamente...

Não importa qual administração esteja no poder, o “mundo americano livre” sempre estará pronto para desencadear um conflito com o “Irã tirânico e opressor”. Os Estados Unidos está sempre pronto para criar um novo Iraque ou uma nova Líbia... Afinal, guerras são lucrativas! As provocações americanas foram feitas à luz dos acontecimentos no Iêmen, onde a Resistência continua, ainda que laboriosamente, a infligir duros golpes aos objetivos hegemônicos americanos, criando dificuldades também para Israel. Porque, não nos esqueçamos, as rotas comerciais que passam pelo Golfo de Áden e pelo Mar Vermelho são especialmente úteis para Israel; na verdade, são fundamentais para o sustento interno e para a gestão do tráfego no Mediterrâneo em direção a toda a Europa.

“O Irã não tem intenção de construir armas nucleares a menos que os Estados Unidos nos obriguem a fazê-lo.” Esta é a mensagem transmitida por Teerã a Donald Trump, que nos últimos dias ameaçou bombardear a República Islâmica caso não se chegue a um acordo sobre seu programa nuclear. O enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ofereceu-se para visitar Teerã ou se encontrar com autoridades do governo iraniano em um país neutro; o Irã rejeitou a proposta, afirmando que Witkoff é uma “pessoa irrelevante” e que o Irã “não está interessado” em se reunir diretamente com os americanos.

Tenha em mente que o custo total da operação militar dos EUA contra os houthis apoiados pelo Irã no Iêmen se aproxima de US$ 1 bilhão em pouco menos de três semanas, e não houve danos significativos. A resistência iemenita é forte e imparável.

Enquanto isso, Netanyahu está pronto para se reunir com Trump para discutir o que fazer, incluindo o problema das novas tarifas que também afetam produtos israelenses em 17%. Como comentou o ex-agente da CIA Philip Giraldi : "É difícil de acreditar, mas, com base nas primeiras dez semanas no poder, o governo Trump tornou a situação pior para os americanos do que Biden faria, devido às constantes ameaças de ocupar outros países, impor tarifas pesadas sobre produtos importados e punir nações como Rússia e Irã caso não aceitem as condições estabelecidas pelo novo presidente."

"O Irã emitiu alertas ao Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Catar, Turquia e Bahrein de que qualquer apoio a um ataque dos EUA ao Irã, incluindo o uso de seu espaço aéreo ou território pelos militares dos EUA durante um ataque, seria considerado um ato de hostilidade."

As exigências do Irã para um novo acordo nuclear com os Estados Unidos são basicamente as seguintes:

  1. O acordo deve ser um tratado oficial, ratificado pelo Congresso dos EUA, para que um futuro presidente americano não possa se retirar unilateralmente (como fez Trump).

  2. Antes do início das negociações, os EUA devem remover as sanções ao setor médico iraniano e a outros setores. Após a assinatura do acordo, deve haver uma redução TOTAL das sanções, o que significa que todas as sanções devem ser removidas, não apenas algumas.

  3. Em caso de retirada dos EUA do acordo, o Irã tem o direito de aplicar imediatamente uma cláusula de “snap-back”: instalar centrífugas avançadas, iniciar o enriquecimento rápido de urânio e aumentar os estoques.

  4. O Irã deve ter permissão para se reconectar ao sistema de pagamento SWIFT (controlado pelos Estados Unidos) para poder realizar transações internacionais.

  5. O Irã poderá manter seu programa nuclear, incluindo enriquecimento avançado para “fins de pesquisa”.

  6. Não haverá negociações ou limitações ao programa de mísseis balísticos do Irã ou apoio a grupos regionais.

  7. Os ativos financeiros iranianos congelados no exterior devem ser descongelados.

A questão também precisa ser entendida de um ponto de vista mais doutrinário. Para os EUA, mas de forma mais geral para todas as talassocracias, conquistar e controlar a Rimlândia é a condição indispensável para derrotar as telurocracias, neste caso, todo o continente eurasiano. O Irã representa o centro do Eixo da Resistência, o coração daquele Islã que não faz concessões. Tudo o que limita a possibilidade de dominar os mares e cercar a Heartland deve ser neutralizado. Isso representa uma urgência geopolítica incessante para os EUA.

A efetiva redução do poder americano no mundo está forçando Washington a redefinir suas estratégias de controle na região, utilizando a cooperação discreta de outros atores locais. Não apenas Israel, com sua influência, mas também os países árabes da península, ligados ao tráfico de petróleo bruto com os americanos.

A Marinha dos Estados Unidos tem 295 navios e, de acordo com a USNI, 96 deles estão destacados no Oriente Médio e no Oceano Índico contra o Irã e o Iêmen. 25% da Marinha dos Estados Unidos foi mobilizada e 26 navios foram identificados.

O porta-aviões CVN-70 Carl Vinson concluiu sua passagem pelo Estreito de Malaca e segue conforme planejado em direção à área operacional entre Diego Garcia e as águas voltadas para o Irã. Enquanto isso, o CVN-75 Harry S. Truman, com seu grupo de ataque, mantém suas operações no Mar Vermelho. Para apoiar as operações na área, o contratorpedeiro USS Wayne E. Meyer (DDG-108), da classe Arleigh Burke, foi destacado para o estreito de Diego Garcia, reforçando as capacidades de defesa aérea da ilha.

A questão também precisa ser entendida de um ponto de vista mais doutrinário. Para os EUA, mas de forma mais geral para todas as talassocracias, conquistar e controlar a Rimlândia é a condição indispensável para derrotar as telurocracias, neste caso, todo o continente eurasiano. O Irã representa o centro do Eixo da Resistência, o coração daquele Islã que não faz concessões. Tudo o que limita a possibilidade de dominar os mares e cercar a Heartland deve ser neutralizado. Isso representa uma urgência geopolítica incessante para os EUA.

Assista o vídeo "Irá Netanyahu lançar bombas nucleares tácticas contra o Hezbollah", produzido pela Rede Global de Comunicação Conhecimento é Poder.

A efetiva redução do poder americano no mundo está forçando Washington a redefinir suas estratégias de controle na região, utilizando a cooperação discreta de outros atores locais. Não apenas Israel, com sua influência, mas também os países árabes da península, ligados ao tráfico de petróleo bruto com os americanos.

A Marinha dos Estados Unidos tem 295 navios e, de acordo com a USNI, 96 deles estão destacados no Oriente Médio e no Oceano Índico contra o Irã e o Iêmen. 25% da Marinha dos Estados Unidos foi mobilizada e 26 navios foram identificados.

O porta-aviões CVN-70 Carl Vinson concluiu sua passagem pelo Estreito de Malaca e segue conforme planejado em direção à área operacional entre Diego Garcia e as águas voltadas para o Irã. Enquanto isso, o CVN-75 Harry S. Truman, com seu grupo de ataque, mantém suas operações no Mar Vermelho. Para apoiar as operações na área, o contratorpedeiro USS Wayne E. Meyer (DDG-108), da classe Arleigh Burke, foi destacado para o estreito de Diego Garcia, reforçando as capacidades de defesa aérea da ilha.

Uma ação de tamanha magnitude não está associada a tensões simples ou conflitos limitados. Os Estados Unidos e Israel estão se preparando para uma guerra em larga escala, e os primeiros passos e testes desse processo estão ocorrendo durante os atuais ataques no Iêmen.

A estranha maneira americana de iniciar negociações de paz: com armas, ameaças e mísseis apontados. Uma interpretação curiosa da diplomacia, que esperamos que fracasse definitivamente em breve.

Os Estados Unidos estão focados em uma guerra contra os árabes em favor de Israel. Eles estão semeando discórdia, guerra, caos e conflito em todo o mundo árabe para fragmentá-lo e enfraquecê-lo, mirando seus exércitos e estados-nação para impor um novo plano para o Oriente Médio sob controle israelense em nome dos Estados Unidos. O objetivo é estabelecer um "Grande Israel" que se estenda do Eufrates ao Nilo, no Egito.

Os líderes árabes reconhecem essa realidade e estão se preparando para enfrentá-la antes que eles e seus países sejam consumidos? E o Irã estará pronto para reagir a tempo?

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A REORGANIZAÇÃO DAS ALIANÇAS NO ORIENTE MÉDIO

08.01.2025 - Rede Global de Comunicação Conhecimento é Poder Escrito por Edson A Souza

As declarações de golpes definitivos e dolorosos do Irã sobre Israel e vice-versa mostraram-se ilusórios. Não assistimos ao cataclismo anunciado, mas, a um reposicionamento dos principais atores. Os homens e as mulheres que, devotados à independência do seu país, tudo sacrificaram em Gaza, no Líbano e no Iêmen devem reorganizar-se sem o apoio dos seus antigos padrinhos.

Nem Teerã ou Tel-aviv procuraram destruir os objetivos estratégicos do adversário. Tudo não passa de dialéticas para encobrir os planos reais... Sim, Israel sofrerá um ataque devastador no futuro próximo, assim como o Rei do Sul... Mas, ainda existem peças no tabuleiro a ser movidas em direção ao plano que não irá concretizar-se na Grande Israel. Há profundos laços de uma parte da classe dirigente iraniana e dos « sionistas revisionistas ». Estes grupos são muito minoritários, muito embora os primeiros tenham acedido várias vezes à presidência da Republica islâmica e os segundos estejam hoje em dia no Poder à cabeça do Estado hebreu. Mesmo que isso seja difícil de admitir, nenhuma destas duas nações é o que as pessoas acreditam e chamam de “uma democracia” e os seus dirigentes podem fazer discursos muito distantes da realidade sem ser derrubados pelo povo (embora os Iranianos tenham derrubado o Xá, há 45 anos). No entanto, os dois exércitos, embora estivessem proibidos de atingir significativamente o seu adversário, não se contentaram em lançar fogos de artifício.

Intervindo na televisão, em 18 de Outubro, Benjamin Netanyahu, Primeiro-Ministro israelita, declarou : « O Eixo do Terror que foi construído pelo Irã afunda-se diante dos nossos olhos. Nasrallah está morto. O seu adjunto Mohsen está morto. Haniyeh está morto. Deif está morto. Sinwar está morto. O reino de terror que o regime iraniano impôs ao seu próprio povo e aos povos do Iraque, da Síria, do Líbano e do Iêmen acabará igualmente. Todos os que buscam um futuro de prosperidade e de paz no Médio Oriente deveriam unir-se para construir um futuro melhor. Juntos, podemos afastar as forças da obscuridade e criar um futuro de luz e de esperança para todos nós ». Em nenhum momento, ele cita os verdadeiros criadores do terror no Oriente Médio, O Rei do Sul (a potência mundial anglo-americana USA / seus aliados OTAN, EU e outros). Desde há um ano, assistimos a orgulhosas declarações e ameaças das autoridades israelitas e iranianas. Cada um, como um galo apoiado nos esporões, garante-nos que suas respostas serão definitivas e dolorosas. Ora, os dois ataques iranianos (Operação «promessa verdadeira» de 13 de Abril e de 1 de Outubro) e os dois ataques israelitas (19 de Abril e 26 de Outubro) não cumpriram os seus anúncios.

Aproveitaram os seus disparos de mísseis, terra-terra pelo Irão e terra-ar por Israel, para testar os sistemas de defesa anti-aérea e para tentar destruir as suas capacidades ofensivas (o Irã atacando a base aérea dos F-35 e Israel atacando as fábricas |usinas| de fabricação de combustível sólido dos mísseis hipersônicos). « Os Estados Unidos e os sionistas receberão uma resposta esmagadora pelo que fazem contra o Irã e a Resistência », declarou o aiatolá Ali Khamenei, guia supremo da Revolução iraniana, em 2 de Novembro de 2024.

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